quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Pedagogo e as Tecnologias da Informação e Comunicação

Não há alternativa para o uso das TIC pelo pedagogo. Concentro o debate em torno da seguinte questão: o que é alfabetização? Para além das especificidades - alfabetização e letramento -, assumo que inserir as TIC consiste em reconhecê-las como necessárias à apropriação dos produtos culturais. A seguir, apresento palestra proferida em recente Encontro.
O papel do pedagogo rumo às novas tecnologias[1]
Carlos Augusto de Medeiros[2]


A minha fala busca responder a algumas questões, tais como: qual o papel do pedagogo na sociedade moderna? Como se relacionam as TIC e o papel desse profissional? Que desafios o mundo contemporâneo impõe ao pedagogo?
O primeiro passo consiste em resgatar o papel do pedagogo. Fazendo menção à excelente exposição do prof. Rogério Córdoba (FE/UnB), na abertura desta I Semana Acadêmica, o “papel do pedagogo transcende a escola”. De toda forma, a condução que o caracteriza permanece quer seja dentro ou fora da escola.
Conduzir de onde para onde? Responder a essa questão não é tarefa fácil. Pode-se contudo assumir posturas. Nesse sentido, o estudante que se encontra em determinado lugar da sociedade, em um determinado tempo histórico, reivindica auxílio para atingir outro lugar, nesse mesmo período. Esse lugar pode ser traduzido como o acúmulo do produzido socialmente; ou ainda, os postos na sociedade da divisão social do trabalho, que esse acúmulo possibilita. Apenas isso é insuficiente. É preciso reconhecer que a participação mais ampla nos desígnios da sociedade (participação cidadã), assim como seu próprio desenvolvimento (desenvolvimento pleno do sujeito) complementam o espectro dos processos educacionais: desenvolvimento pleno; preparação para o exercício da cidadania e preparação para o trabalho.
A condução antes referida, que se reveste de apropriação da produção cultural, conduz a outra reflexão: qual o limite dessa apropriação? Ao longo dos tempos, esse limite vai se estendendo: de início, referia-se às quatro séries iniciais do ensino fundamental; mais tarde, estendeu-se às oito séries iniciais (o chamado ensino de 1o. Grau); hoje, reconhece-se a necessidade do atendimento educacional do nascimento à conclusão do ensino médio, isto é, educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. A Educação Básica, portanto, traduz o mínimo aceito socialmente como formação do sujeito para o convívio em sociedade.
Neste debate inserem-se as TIC. Pense-se que leitura e interpretação, escrita e aritmética estão limitadas pela apropriação das ferramentas que as produzem. Nessa linha, apropriar-se da informação, com vistas à sua transformação em conhecimento, estabelece o limite do debate: sociedades, instituições, relações sociais, produção e reprodução da sociedade e de suas estruturas simbólicas, tudo isso está em jogo, pois, “[...] uma nova história da humanidade é necessariamente tributária de uma nova relação do homem com a Ciência e com as técnicas”[3].
Avançando um pouco e chegando ao segundo passo da presente exposição, é preciso distinguir (i) tecnologia da educação de (ii) tecnologia na educação. Tecnologia é produto cultural e, portanto, envolve todas as representações (e diversas outras) expostas no primeiro passo, acima. Agora, cabe responder: para que as tecnologias? Ao me referira às tecnologias da educação refiro-me a quadro-negro e giz; quadro-branco e pincel; cadeira, carteira, lápis, borracha, régua; retroprojetor; projetor de slide. Refiro-me ainda, a datashow, recursos de áudio e vídeo, quadro eletrônico; computadores; TV etc. Enfim, tecnologia da educação é recurso educacional.
Tecnologia na educação refere-se à utilização dos recursos para o fim da educação. Desse ponto de vista, as tecnologias são segundo plano porque o que importa mesmo é o processo educacional.
Com as tecnologias cada vez mais acessíveis a parcelas maiores da sociedade, seus usos já condicionam os espaços extraescolares de vivência social. Nesse sentido, reconhecer a existência das TIC acaba sendo irrelevante, pois, elas estão aí, na Era Digital[4], cujo computador é seu maior ícone. Essa Era impõe novos procedimentos, inclusive à pedagogia.
Aos pedagogos cabe um conjunto de competências, antes dispensadas, mas agora, primordiais[5]:
·      Demonstrar habilidade para operar um sistema de computação de forma a usar com sucesso o software;
·      Avaliar e usar os computadores e tecnologias relacionadas no apoio ao processo instrucional;
·      Aplicar os princípios instrucionais atuais, pesquisa e práticas de avaliação apropriadas ao uso dos computadores e tecnologias relacionadas;
·      Explorar, avaliar e usar materiais baseados em computadores/tecnologia, incluindo aplicativos, software educacional e documentação associada;
·      Demonstrar conhecimento de uso de computadores para resolução de problemas, coleta de dados, gerenciamento de informação, comunicações, apresentações e tomada de decisão;
·      Elaborar e desenvolver atividades para a aprendizagem pelo estudante que integrem a computação e tecnologia para diversos grupos de estudantes;
·      Etc.
A escola há muito deixou de ser o local exclusivo do saber: “[...] hoje nos deparamos com diversos saberes e conhecimentos, difundidos pelas novas tecnologias da comunicação , que invadem o nosso cotidiano [...]”[6]. Nessa linha, um dos desafios impostos à escola, hoje, além de manter a criatividade comum a todos os tempos, consiste em integrar linguagens das mídias no contexto escolar (isto é, a cultura tecnológica) desenvolvendo nos estudantes habilidades para a utilização dos instrumentos da cultura.
Hoje, professores e estudantes precisam conhecer outras linguagens (jornalística, radiofônica, televisiva e do computador) a fim de que distinguam e compreendam os discursos simbólicos[7], pois, “o meio é a mensagem”[8]. Nesse contexto se insere o ciberanalfabeto, compreendido como o sujeito impossibilitado de se apropriar dos produtos da cultura, quer seja economicamente ou politicamente, pela incapacidade de compreender textos, intertextos e contextos.
Não me filio ao “otimismo tecnicista”[9] centrado na técnica destituída da competência crítica, ao contrário, partidarizo-me com aqueles que reconhecem a sua importância para a formação plena do sujeito.


[1] Palestra proferida na I Semana Acadêmica, do Curso de Pedagogia do IESB Oeste, dia 22 de junho de 2011.
[2] Mestre (UnB) e Doutor (USP) em Educação, na área de Estado, sociedade e educação. Ex-professor da educação básica, por 14 anos, na rede pública de ensino do Distrito Federal, atualmente, docente no curso de graduação, em pedagogia, do IESB-Oeste. Atua, ainda, em programas de pós-graduação lato sensu e presta consultoria em educação para o setores público e privado.
[3] SANTOS, Gilberto Lacerda. A tecnologia, a Ciência e seus modos de produção: representações de professores do ensino fundamental. Linhas Criticas, Brasília, v. 13, p. 21-36, jan./jun. 2007. p. 22.
[4] BEETHAM, Helen; SHARPE, Rhona. Rethinking Pedagogy for a Digital Age: designing and delivering e-learning. New York, USA/London, England: Routledge, 2007.
[5] LITWIN, Edith. Das tradições à virtualidade. In: _____ (org.). Educação a Distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2001.
[6] ASSUMPÇÃO, Zeneida Alves. A rádio na escola: uma prática educativa eficaz. Disponível em:< . Acesso em:
[7] Ibid.
[8] MC LUHAN apud ASSUMPÇÃO, Id.
[9] BELLONI, Maria Luiza. O que é mídia-educação. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário