terça-feira, 5 de julho de 2011

A Resenha.

Orientações sobre resumos e resenhas são sempre bem vindas. Como se gosta deles. A seguir, apresento uma sistematização conceitual com orientações práticas de como elaborar uma resenha. Espero que vocês apreciem.

A RESENHA

CARLOS AUGUSTO DE MEDEIROS

1 Considerações iniciais

A resenha ou recensão ou resumo crítico (NBR, 6028) é uma poderosa ferramenta redigida “por especialistas com análise interpretativa de um documento”. Um breve passeio pela literatura especializada assinalou algumas particularidades a serem melhor observadas.
Para Fiorin e Savioli (2000, p. 426), resenhar significa “fazer uma relação das propriedades de um objeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes, descrever as circunstâncias que o envolvem”. Esse objeto pode ser qualquer acontecimento (um jogo, uma cerimônia, uma música, um filme, uma feira e até, um texto[1] escrito). Uma resenha, para os autores, contém uma parte descritiva, uma com resumo do conteúdo da obra e, por fim, pode apresentar-se com comentários e julgamentos do resenhador. Consideram, pois, que uma resenha pode ser descritiva ou crítica.
Para Severino (2000, p. 131),
resenha, recensão de livros ou análise bibliográfica é uma síntese ou um comentário dos livros publicados feito em revistas especializadas das várias áreas da ciência, das artes e da filosofia.
Segundo ainda o mesmo, uma resenha pode apenas expor o conteúdo (resenha informativa), pode se manifestar sobre valor e alcance do texto analisado (resenha crítica) ou ainda, pode expor o conteúdo e tecer comentários sobre o texto analisado (resenha crítico-informativa).
Andrade (apud MEDEIROS, 2000, p. 137) assinala que resenha é um tipo de trabalho que “exige conhecimento do assunto, para estabelecer comparação com outras obras da mesma área e maturidade intelectual para fazer avaliação e emitir juízo de valor”. Medeiros (2000, p. 137) conclui que
resenha é, portanto, um relato minucioso das propriedades de um objeto, ou de suas partes constitutivas; é um tipo de redação técnica que inclui variadas modalidades de textos: descrição, narração e dissertação.
A resenha tem por objetivos, de acordo com Medeiros (2000, p. 138), servir como instrumento de pesquisa bibliográfica, como atualização bibliográfica, auxiliando na decisão de consulta ou não do texto original. Além desses objetivos gerais, acrescenta os de “desenvolvimento da capacidade de síntese, interpretação e crítica”.
Marconi e Lakatos (2003, p. 264), por fim, definem a resenha como “uma descrição minuciosa que compreende certo número de fatos” que visa a apresentar uma síntese das idéias fundamentais da obra. Resenha crítica, em particular, “consiste na leitura, no resumo, na crítica e na formulação de um conceito de valor do livro feitos pelo resenhista”.
Diante do exposto, considera-se resenha o estudo de um acontecimento, obedecendo à seguinte estrutura:
1.    Objeto;
2.    Credenciais do autor;
3.    Resumo;
4.    Crítica;
5.    Análise de relevância;
6.    Referências.

2 Estrutura de uma resenha

Como se pode facilmente evidenciar, não há caminho único para a elaboração de uma resenha. O percurso aqui selecionado é apenas uma das possibilidades da produção científica.

2.1 Objeto

Trata-se do objeto alvo da atenção do resenhista, podendo ser um texto escrito, uma aula, um vídeo, um filme, uma música etc., enfim, qualquer manifestação que contenha informação. No caso de um texto escrito, deve-se observar a NBR: 6023, que trata dos elementos a serem incluídos em referências.
Exemplo:
MATUS, Carlos. Política, planejamento & governo. 3. E. Brasília: IPEA, 1997. P. 9-53.
Dica: Observe a norma de referências (NBR: 6023).

2.2 Credenciais do autor (Biografia)

Uma resenha elegante contém informações sobre o autor, isto é, sua biografia (sua vida, nacionalidade, formação, títulos, cargos, outras obras etc.). Além disso, contém a contextualização desta obra que você está resenhando, isto é, onde ela se situa no conjunto da vida do autor.
Exemplo:
Erasto Fortes Mendonça nasceu em Niterói, RJ, em 21 de fevereiro de 1952. É doutor em Educação pela Unicamp, na área de Políticas de Educação e Sistemas Educacionais e mestre em Educação pela UnB, na área de Educação Brasileira. Foi professor do antigo curso primário e do ensino fundamental em escolas de Niterói. Em Brasília, foi professor da rede pública e diretor eleito do Complexo Escolar A de Ceilândia, onde coordenou a implantação de um projeto de gestão democrática. Atualmente, é professor na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) onde exerce a docência e desenvolve atividades de pesquisa e extensão vinculadas ao Núcleo de Pesquisa em Políticas e Gestão da Educação Básica. É diretor da seção do Distrito Federal da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae). É também, diretor da Faculdade de Educação (FE), da Universidade de Brasília (UnB).
Dica: As “orelhas” dos livros, normalmente, trazem este tipo de informação; quando não, a Internet é uma poderosa ferramenta.

2.3 Resumo

Observe a ABNT (NBR: 6028) e, portanto, faça, preferencialmente, em um parágrafo de 10 linhas, contendo: tema, tratamento, objetivos, metodologia, resultados e conclusões.
Exemplo:
Planejamento da Educação. O texto busca apresentar o percurso histórico do processo de planejamento da educação. Trata-se de uma reflexão histórica. Primeiramente, assinala a presença do processo de planejamento educacional como “natural” às sociedades humanas; a seguir, apresenta o histórico planejamento da educação antes e depois da Segunda Guerra Mundial; depois, apresenta as grandes conferências regionais promovidas pela UNESC; e, por fim, verticaliza a importância da UNESC na consolidação do planejamento da educação. Conclui, evidenciando que: nas épocas das grandes mudanças intelectuais e sociais surge a preocupação com o planejamento da educação; antes da Segunda Guerra, as experiências com o planejamento limitavam-se aos países socialistas e, depois, aos poucos, foi sendo incorporada pelos demais países; a UNESC promoveu o planejamento da educação em diversos países que lhe rendeu vasta experiência. Apresenta como resultados, os processos de cooperação (técnica, bilateral e multilateral) como via para o enfrentamento da falta de pessoal qualificado e, a implacável ajuda da UNESC para o fortalecimento do planejamento da educação.
Dica: Tudo que você pensou, até aqui, como sendo um resumo muito raramente poderá ser assim considerado, devido às falhas na nossa formação. Um resumo não contém cópia e colagem e é sempre feito com palavras próprias, por isso, dois resumos nunca são iguais.

2.4 Crítica

A crítica é quando você se posiciona em relação ao pensamento do autor do objeto resenhado, podendo concordar, discordar no todo ou em parte, enfim, é aquilo que você pensa a respeito do assunto. Para este trabalho, você pode (e até prefiro) fazer uso de outros autores que, necessariamente, aparecerão nas referências de sua resenha.

Exemplo:
O texto apresenta uma versão linear e homogênea da história da filosofia. Sua síntese consiste no modelo aristotélico, cujas raízes há muito se debate e por cujas vias, em parte, hoje muito temos a recuperar. Prefiro concordar com Morin (1998) ao assinalar que a contradição pode se apresentar como paradoxo (atentado ao bom senso), antinomia (conflito entre duas proposições igualmente demonstráveis), aporia (confronto entre duas soluções incompatíveis entre si) e como acasalamento de dois termos que se excluem. Com Aristóteles, prossegue o autor, “a contradição foi oficialmente expulsa do pensamento racional ocidental” (p. 225). Nesse sentido,
enquanto a filosofia enfrentava o problema da contradição, a ciência clássica sempre o rejeitara: uma contradição só podia ser o indício de um erro de raciocínio e, por isso mesmo, devia não apenas ser eliminada, mas determinar a eliminação do raciocínio que a ela conduzia. (MORIN, 1998, p. 226).
Evidentemente, há contradições que aparecem ao termo de uma dedução correta a partir de premissas consistentes. Como no caso da microfísica que, de modo racional, verificou que segundo as condições experimentais, a partícula comportava-se ora como onda, ora como corpúsculo. A partícula, pois, “não apenas tem [...] dois tipos de propriedade complementares, como também nela existem dois tipos de identidade que se excluem mutuamente” (MORIN, 1998, p. 226). Portanto, alguns aspectos fundamentais da realidade microfísica não obedecem à lógica clássica[2]. De fato, duas proposições contrárias podem assim ser complementares[3].
Dica: use e abuse dos teóricos e daquilo que você pensa, afinal, você está fazendo uma resenha para se posicionar diante do pensamento de outros autores que são, naturalmente, diferentes de você. Não se acanhe: todo mundo começa de algum lugar. Aquilo que você pensa não está certo e nem está errado, viu?? Por isso, faça sem medo.

2.5 Análise de Relevância

Aqui você se posiciona em relação à importância desse estudo que você acabou de realizar. É comum associá-la ao curso que você faz, à vida em geral, e à sua profissão, em particular.
Exemplo:
O conteúdo abordado é de fundamental importância para os profissionais da área de educação. Ao longo dos anos, a rígida disposição das áreas do conhecimento turvou as visões particulares sempre circunscritas a espaços previamente determinados. Hoje, conforme se depreende, reconhece-se a importância de caminhar em direção à transdisciplinaridade. Nesse sentido, o texto faz uma análise profunda, pertinente e urgente da questão.

2.6 Referências

É comum confundir este item com o primeiro (2.1 Objeto). Aqui só tem sentido caso o resenhista tenha feito uso de outras referências teóricas em sua crítica (2.4 crítica), até porque os dados do texto, quando for o caso, já estão anunciados, o que torna desnecessária a duplicidade de informações.
Exemplo:
LÜCK, Heloísa. Metodologia de Projetos: uma ferramenta de planejamento e gestão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
GOMES, Alfredo Macedo. Política de avaliação da educação superior: controle e massificação. Educação & Sociedade: Revista Quadrimestral de Ciência da Educação. Centro de Estudos Educação e Sociedade, Vol. 1, n. 1, p. 277-300, 1998. São Paulo: Cortez; Campinas, CEDES, 1978.

3 Referências


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: resumos. Rio de Janeiro, 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 21. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2000.


[1] Convém ressaltar que texto não é nem um aglomerado de frases nem tampouco, uma manifestação isolada individual (cf FIORIN; SAVIOLI, 2000). Qualquer enunciado com significado é, a rigor, um texto.
[2] “Quando Niels Bohr aceitou o acasalamento das noções contrárias de onda e de corpúsculo declarando-as complementares, realizou o primeiro passo de uma formidável revolução epistêmica: a aceitação de uma contradição pela racionalidade científica” (MORIN, 1998, p. 227).
[3] “[...] evidentemente, esse ponto de vista só vale [...] onde o pensamento empírico/racional chega inevitavelmente a uma contradição; se não fosse assim, qualquer incoerência teria o estatuto de verdade superior. O que nos interessa é a inadequação entre a coerência interna de um sistema de idéias aparentemente racional e a realidade à qual esse se aplica: a coerência lógica impede a adequação e esta impede a coerência lógica” (MORIN, 1998, p. 229; grifo do autor).


Nenhum comentário:

Postar um comentário